É um ciclo economicamente vicioso, todos os dias, andando em círculos, dando voltas, uma autofagia sincronizada com o ritmo da produção diária, o quanto se produz é o quanto se mata, se destrói, desde a matéria-prima que para ter sido obtida veio de uma exploração desnecessária, passando pela exploração de quem a manufatura, até chegar nos lares aconchegantes ou não de consumidores. A lâmpada acesa na porta de casa a noite toda, iluminando os insetos não faz muita diferença no fim do mês, sua luz na porta de casa, abrange o portão da frente, enquanto mais a frente, numa esquina dois cigarros pontam na escuridão, ao longe barulho de tiros, sirenes. O portão fechado garante uma certa segurança, para ir ao emprego no dia que chega, mais consumo, mais produção, enquanto, num ônibus lotado, cheio de pessoas que são iguais a você mas que a semelhança ou diferença não se faz ser notada de maneira nenhuma, é como se fossem apenas fumaça, apesar do espaço que ocupam, é como se fossem de plástico.
No emprego de volta, faz tarefas, vende, para, come, volta a trabalhar, em casa descansa na segurança dos muros. Na mesa de jantar imagina quantos muros devem existir no mundo, ou quantos devem existir durante sua caminhada ao emprego, pior ainda, quantos muros existem e não são percebidos? Seria um pensamento intrigante, se não estivesse tão perto da hora do jornal, pois agora é uma hora de recostar no sofá, desligar a mente e ligar a televisão, essa técnica de descanso tem funcionando muito bem, durante todos os anos de sua vida, logo esquece a ideia dos muros e sua intangibilidade e se adentra no resumo do dia que alguém escolheu a pauta a ser exibida, com certeza não é tudo, mas ninguém pode saber de tudo, e há sempre assuntos mais importantes, mas a TV é esplendida, pois, ela sabe o que é importante para cada um de nós e bem mais, ela diz que todos nós temos a mesma necessidade pros mesmos assuntos, dia após dia.
Na metade do programa, os olhos se encontram já meio fechados e pouco depois não vêem mais nada, o despertador acorda, e de novo, a rotina, mais uma célula circulando pelas veias imundas de petróleo, intoxicando até que o veneno seja demais e acabe levando a óbito, mas quando esse dia chegar, já terão uma fila imensa na substituição, pronta para a execução do cargo, trabalhando, morrendo, mordendo o próprio rabo.
Xi Drinx